Por uma Periferia Livr@ no currículo: reflexões sobre a importância da literatura periférica nas escolas
Por uma Periferia Livr@ no currículo: reflexões sobre a importância da literatura periférica nas escolas.
Quantos autores negros você já estudou na disciplina de literatura na escola?
Quantos autores periféricos não brancos cis e LGBTQIA você já leu? São
questões que refleti de modo mais frequente, quando conheci o projeto de
extensão Periferia livr@. Esse grupo tem como foco visibilizar a literatura
periférica nas escolas da cidade de São Paulo.
A periferia tem cor, gênero, classe, geração e território, público esse que faz
parte das comunidades que compõem as escolas públicas. Porém, o que em
muitas ocasiões aprendemos no ensino de literatura são obras completamente
alheias a nossa realidade.
Isso não significa dizer que não possamos ler Camões, admirarmos os
movimentos ou escolas literárias, nos encantarmos com a arte barroca ou nos
maravilharmos com o Romantismo ou o Ultrarromantismo de Álvares de
Azevedo, mas saber que existe para além desses mundos, produções e
movimentos que faziam parte desses contextos e que existem ainda hoje nas
realidades periféricas.
Quando estudava obras mais realistas na escola, eram sempre retratando
imagens de pessoas negras no sentido pejorativo e passivo no decorrer da
história. Mulheres não brancas carregadas de imagens de controle
parafraseando Patricia Hill Collins, sem protagonismos e autoafirmações de
corpos periféricos.
Nunca li Carolina Maria de Jesus na escola, muito menos Conceição Evaristo.
Visibilidade feminina? Recordo-me de ter estudado no máximo Clarice
Lispector. Essas invisibilidades são resultantes de um currículo oculto, que para
Tomaz Tadeu da Silva, não é um currículo verbalizado e formalizado. Acredito
que esse modelo funciona como um pacto da branquitude (BENTO, 2002)
apresentando, em sua maioria, figuras masculinas brancas como
protagonistas, poucas mulheres brancas e, em algumas ocasiões, nenhuma
mulher negra retinta ou mulher indígena cis e LIGBTQIA enquanto protagonista
e produtora de escritas decoloniais.
O que o grupo Periferia livr@ propõe é uma virada epistemológica, com o
intuito de visibilizar autorias periféricas plurais, cujas vozes silenciadas pelo
currículo, estão sendo ouvidas e potencializadas através de debates, criação
de ebooks e audiobooks, produção e representação de materiais pedagógicos,
entre outras frentes que o grupo está realizando.
Acompanhem o projeto e as nossas ações, compartilhando esses
questionamentos com mais pessoas e continuando na luta por uma sociedade
e um currículo mais diverso e plural.
Referências:
BENTO, Maria Aparecida S. Pactos narcísicos no racismo: branquitude e
poder nas organizações empresariais e no poder público. Tese (Doutorado).
Universidade de São Paulo, 2002.